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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Sem respeito pelo passado

A revista Veja Rio de 13 de abril de 2011 mostra em sua reportagem de capa o desprezo que governos (esferas municipal, estadual e federal) e a população em geral trata o patrimônio histórico do Rio de Janeiro, mas que se reflete Brasil afora. São relíquias esquecidas, acervos deteriorados e lugares importantes tratados como espaços comuns.
Na contramão dos países desenvolvidos que preservam sua história, "celebram as marcas de suas conquistas, de sua cultura e de sua gente. Podem fazer isso com pirâmides, arcos, igrejas ou museus. Mas, além do aspecto arquitetônico, essas edificações servem para preservar a história. "
"A questão é o valor que damos a isso. Por falta de divulgação, muitas atrações são completamente desconhecidos. Por falta de verba, acervos imensos vão se deteriorando longe do público. Por falta de inteligência, lugares que carregam um pedaço de nossa memória são tratados como espaços comuns. Tal descaso deixaria escandalizados especialistas de metrópoles que zelam pelo passado, a exemplo de Paris e Londres. As grandes nações já aprenderam, há muito tempo, que não dá para olhar para o futuro sem reverenciar e analisar o que ficou lá atrás - diz Marco Antônio Villa, historiador da Universidade Federal de São Carlos. - No Brasil, isso é visto como um grande incômodo."
A primeira vez que fui ao Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, fui imaginando como seria o palácio que entre 1808 e 1889 foi residência da monarquia portuguesa e brasileira. Afinal, ali moraram D. João VI e Carlota Joaquina, D. Pedro I e D. Leopoldina, D. Pedro II e a Princesa Isabel. Fui imaginando encontrar mobiliário, objetos pessoais e como seriam as salas, os quartos, a cozinha. Enfim, não vi nada disso. "Após a proclamação da República, o acervo foi transferido para outros lugares e o prédio passou a abrigar um tipo diferente de documentação. São réplicas de dinossauros, pedaços de meteoritos e uma mostra sobre uma expedição brasileira a Antártica. As referências a vida da família real limitam-se a malconservada Sala do Trono, na qual os monarcas recebiam visitantes oficiais. Dispostas sem critério, poucas peças adornam o recinto. No teto, a pintura apresenta claros sinais de desgaste."
" Em larga medida, o Museu Nacional repete um padrão observado em dezenas de logradouros cariocas. Palco de acontecimentos memoráveis, sede administrativa dos governos monárquicos, o Paço Imperial, no centro, recebe o mesmo tratamento. Em meio a outras cenas de relevância, foi de uma de suas sacadas que, em 9 de janeiro de 1822, D. Pedro I garantiu aos brasileiros que permaneceria no país, contrariando diretamente as ordens de Portugal. O episódio ficou conhecido como Dia do Fico e abriu caminho para a independência. Hoje, as referências a essa passagem são feitas de forma tímida, no térreo da construção. e apenas através de textos em painéis. No prédio mesmo não há nenhum sinal de destaque para a janela da qual o futuro imperador falou a multidão. Nenhuma menção especial também ao salão onde a princesa Isabel assinou a Lei Áurea. Transformado em centro cultural na década de 80, o Paço, que está fechado para reforma até setembro, costuma abrigar exposições temporárias de artes plásticas."

 Paço Imperial - centro do Rio de Janeiro

"A propriedade na qual José Bonifácio de Andrade e Silva passou os últimos anos de sua vida, na Ilha de Paquetá, encontra-se a venda pelo preço de 1,8 milhões de reais. Perde-se assim a chance de saber mais sobre o homem que teve papel central na criação do país e, já em 1823, escrevia artigos defendendo a reforma agrária e o fim da escravidão. " É triste que isso seja feito sem nenhuma discussão sobre a relevância da casa como patrimônio" , lamenta o escritor Laurentino Gomes, autor dos best-sellers 1808 e 1822.
"Preservar a memória é também uma maneira de atrair turistas e divisas. O problema é que não há uma política para isso. Muitas vezes, os santuários são até bem conservados, estão lindos, mas por alguma razão desconhecida permanecem fechados ao público. São muitas as razões que explicam tanto desapreço. De saída, faltam  fontes de financiamento para a conservação da memória brasileira. Salvo exceções, as mais diversas esferas de governo não encaram o assunto como prioridade. Para piorar, ao contrário de outros países, empreendedores e milionários, possíveis mecenas, envolvem-se pouco. Sem os mesmos incentivos que existem lá fora, em termos de redução de impostos, eles raramente fazem doações. Em alguns casos, o simples revanchismo  determinou o esquecimento de episódios relevantes da história brasileira. Foi o que aconteceu com muitos dos símbolos monarquistas que tiveram seu uso desvirtuado depois da instauração da República. "
" Embora a situação não seja das mais favoráveis, existem exemplos daqui mesmo que comprovam: é possível fazer muito com pouco. Palco das principais solenidades religiosas da corte portuguesa, a Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé, no Centro, vale o ingresso de 5 reais. Guias treinados conduzem os interessados por suas dependências e narram episódios do lugar onde foram sagrados d. João VI, D. Pedro I e D. Pedro  II.  Outro exemplo de esmero é o Museu Imperial de Petrópolis, cujo prédio foi residência de verão da família real. A receita da igreja do Carmo e do Museu Imperial é basicamente a mesma: seriedade, compromisso, criatividade, uma boa dos de inconformismo e a busca permanente por apoio. Dá um trabalho danado, mas preservar a história não tem preço - conta Daisy Ketzer, secretária-geral da Associação dos Amigos da Antiga Sé."

Aqui, na minha cidade de Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro, temos uma pequena jóia arquitetônica, recentemente restaurada. É a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, construída em 1797 em estilo barroco. Toda vez que vou ao centro, não resisto e entro, oro e aprecio seu esplendor.





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