Comentei aqui que estava lendo Madame Bovary de Gustave Flaubert. É um escritor elegante, que gosta de figuras de linguagem e usa de comparações inspiradas e, às vezes, inusitadas.
Olha que trecho lindo, quando Emma se vê sozinha, apesar de casada e com uma filha, após a partida de Léon:
"A partir de então, aquela lembrança de Léon foi como o centro de seu aborrecimento; ela crepitava com mais força do que um fogo abandonado na neve numa estepe da Rússia. Ela precipitava-se para ele, abrigava-se contra ele, remexia delicadamente aquele fogo que ia se apagando, ia procurando ao seu redor o que podia avivá-lo mais; e as mais longínquas reminiscências como as mais imediatas ocasiões, o que experimentava com o que imaginava, seus desejos de volúpia que se dispersavam, seus projetos de felicidade que caíam ao vento como ramagens mortas, sua virtude estéril, suas esperanças desabadas, a derisão doméstica, ela juntava tudo,apanhava tudo e fazia com que tudo aquecesse sua tristeza."
Outra peculiaridade de Flaubert é o uso de palavras difíceis. Há que se lê-lo com um dicionário ao lado. No texto acima, você pode achar que foi erro de digitação a palavra derisão. Fui ao Aurélio, significa: riso de desprezo, mofa, escárnio. Aprendi. Assim como aprendi que:
latada significa grade de ripas para amparar plantas trepadeiras;
transudar - transparecer, transpirar;
arrobe - xarope de suco de frutas;
canicho - cão;
perceptor - cobrador de impostos.
e muitas, muitas outras palavras que só quem lê tem o prazer de descobrir e desbravar.
Assim também é Eça de Queiroz, um estupendo escritor, mas que só pode ser lido com um dicionário ao lado. Mas que bem faz a leitura de bons escritores! E é melhor ainda quando se lê ouvindo os grandes clássicos. Faz bem para a alma!
Aprendi a gostar de ler em criança com o Sítio de Monteiro Lobato. Li todos os livros dele duas vezes, uma vez só era pouco para tanto contentamento, tanto alumbramento. E não parei mais. Estou sempre lendo, tem sempre um livro na minha cabeceira. E vários livros na estante a espera do tempo de lê-los.
Bem, vou voltar ao Flaubert. Desculpem.
Como vai Sonia!
ResponderExcluirÉ sempre um prazer receber suas mensagens. De Flaubert prefiro Bouvard et Pecuchet. Desejo que você tenha um ótimo fim de semana com a leitura de um bom livro e uma 'chávena' (rs, pedante, né?) de chá. Um abraço cordial. mario